segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Sirva-se!

Em um mês de ausência tentei colocar as coisas de volta nos eixos. Não gosto de festas de fim de ano, talvez por não ver de forma tão otimista essa ideia de renovação que as festas de fim de ano trazem. Não escolho roupas novas, não faço planos ou metas só pelo “ano novo”. Sou bagunçada por natureza e organizada por T.O.C.; meus livros, minhas roupas, meus esquemas de estudos e meus planos de vida. Aprendi desde cedo que a melhor maneira de seguir algo é traçando uma reta.
Meu único plano para uma simples virada de ano é não ter planos, não me frustro por não conseguir realizar as metas de ano novo, para não me desmentir diante dos meus amigos vou confessar que o único plano que fiz para 2014 foi sair menos e, diga-se de passagem, ainda não consegui realizar.
Em 2013 levei um solavanco da vida para acordar para a realidade;
Arquivo Pessoal
trabalhar, conflitar relacionamentos e manter uma vida universitária me fizeram ver que para ser um “jedi” você só precisa de força de vontade. 2013 entrou após uma virada de ano sem expectativas alguma, decidi nos 45 minutos do segundo tempo onde passaria e esse “improviso” foi o ponta pé inicial para um ano recheado de surpresas. As magias medievais e renascentistas de janeiro, as velhas imagens do Recife até abril, as cores de uma corrida, a marca na pele de uma amizade de outras vidas, o show de Caetano, a fidelização de uma amizade que sempre esteve presente e não tinha sido percebida, concessões e frustrações, filosofias existencialistas, aventuras do paladar e os sentimentos que explodem num ato que, para muitos é simples e para mim é tão complicado.
O autoconhecimento alimentar; o que comer, como comer, quando comer, se tornou o centro das minhas preocupações. Comer não pelo prazer, mas pelos nutrientes oferecidos por aquilo que você ingere. Ter sabedoria do paladar, que através de um pequeno toque na língua você já consiga identificar se algum ingrediente daquela receita vai te fazer mal. Não é coisa de outro mundo, é apenas o treinamento dos sentidos, é você dominar seu corpo e fazer com que ele trabalhe a seu favor e dessa forma não ser pego de surpresa.
Surpresa, uma das poucas palavras que, dependendo do contexto, pode ser boa ou ruim. Dualidade, opostos, contravenções; e disso tudo é feito o mundo. Certa vez me perguntaram o que eu fazia para fechar ciclos de vida, respondi que cortava os cabelos; se fizessem essa pergunta hoje, diria que escrevo para que as marcas da mudança não fiquem apenas em fotografias, mas que possam ser revividas nostalgicamente, para que eu compreenda que seria necessário passar por tudo que já cheguei para chegar onde estou.

Lembre-se: um ex-gordo vê o mundo diferente de um magro.

domingo, 15 de dezembro de 2013

A simplicidade de um sorriso

Prometi que faria uma postagem esse fim de semana, na verdade tinha em mente publicar um texto que escrevi dia 02 de dezembro, mas parece que me perdi no meio dele e as ideias se chocaram, fazendo com que juntasse palavras aleatórias e que no fundo não faziam muito sentido nem para mim, imaginem para vocês!
Fazem duas horas que estou sentada na frente do computador digitando parágrafos desconexos que parecem mais ‘tweets’ do que uma postagem, a maioria deles reclamando da minha falta de tempo. Incrível como sempre reclamo disso e como reclamo que não tenho o que fazer. Resumindo: sempre reclamando e nem tenho de fato do que reclamar.
Parece que perdi minha essência nessas duas semanas (coincidência ou não a minha ausência nas aulas de filosofia e de alimentação), me perguntaram porque parei de sorrir com os olhos e eu simplesmente não soube responder. A rotina me incomoda e a ausência dói. Talvez as pessoas não consigam compreender, mas estar no meio da multidão nem sempre é estar acompanhado e estar isolado nem sempre é estar sozinho. “[...] but alone is alone, not alive!" John Barrowman
Sabe qual o maior medo do homem? Estar só. Percebi que hábitos de relacionamento se perderam com o tempo, você não diz um “boa tarde” sorridente para o cara que tira as bandejas da mesa do shopping, trabalhar com público me fez melhorar muito como pessoas, me tornou mais humana. Outro dia me peguei no modo automático dizendo um boa tarde serelepe para o carinha que recolhe as bandejas e ele me retribuiu com um sorriso radiante, como se dissesse “alguém sabe da minha existência”.
Foto: Marinez Texeira
Já notaram que existem pessoas que iluminam nossas vidas de graça? Aprendi que sorrisos tornam a vida mais leve. Às vezes tá tudo uma bosta e você recebe aquele sorrisão de um estranho e parece que seu dia melhorar só por causa desse pequenino gesto.
Dia 13 de dezembro fiz 30 meses de operada, não tinha me dado conta de como o tempo passou rápido. Até hoje me perguntam qual a principal mudança que aconteceu na minha vida depois da redução de estômago. Sempre falei do psicológico, que mudei meu jeito de ver o mundo. Na verdade acho que aprendi a sorrir. Aprendi a brincar de Pollyanna e de fazer do meu pessimismo de todo dia piada e começar a enxergar o lado positivo das coisas. Relaxei e deixei de ser tensa e me cobrar tanto, evoluções que só quem me conheceu antes consegue perceber. Me aproximei de pessoas que nunca imaginei me aproximar, de pessoas completamente diferente de mim e que hoje deixam saudade quando somem.
Me ensinaram a sorrir nesses dois anos, me ensinaram a gargalhar de coisas bobas. Me ensinaram que se as coisas estão ruins, podem piorar. Mas também me ensinaram que eu nunca vou estar sozinha. Aquela gargalhada que faz falta aos ouvidos, uma piadinha maliciosa que quebra tabus e uma pentelhagem incansável. Talvez vocês não compreendam o que eu estou querendo ressaltar aqui, mas é que por tanto tempo busquei “pessoas iguais” a mim que me vi apegada exatamente ao meu oposto. E viva as contradições, que um mundo cheio de Gabrielas seria tão entediante que ninguém se aguentaria.
Peço desculpas, sei que esse não é o melhor dos meus textos, ando sem motivação para escrever (para muitas coisas). Mais uma despedida (daquelas que eu detesto) quebrou outro pedacinho da minha alma e eu tô tentando arrumar a bagunça que essa péssima surpresa fez.

Lembrem-se: um ex-gordo vê o mundo diferente de um magro.

domingo, 1 de dezembro de 2013

O livro amarelo

Está tudo escrito, sempre esteve. 
Começar um texto afirmando que as coisas não acontecem por acaso talvez seja demonstrar (mais) um pouco do meu lado crente nas energias que circundam o ‘eu’. Incrível mesmo é quando nos colocamos em um estado de inércia para observar o que acontece ao redor, já fizeram isso? É um exercício que recomendo a todos.


Os questionamentos que brotam incessantemente na minha cabeça e que, como se não já fossem muitos, os habitantes das adjacências fazem questão de me (re)questionar sobre os mesmos assuntos.
Comecemos, pois, do começo: o título deste texto. O livro amarelo me foi presenteado por um, a princípio, estranho que hoje chamo de colega filosófico. Diferente dos outros ócios criativos, nesta tarde estou acompanhada de uma seleção de músicas que o Youtube me fez, de um pote de doce de chocolate com bananas em rodelas, deixei o amargo e eufórico sabor do café para um momento posterior, pois nesse preciso do doce e calmante chocolate que amenizará minhas ansiedades em relação à reta final de um curso acadêmico.

Caravaggio - Auto retrato como Dionísio
Parece que, de fato, aquela mente efervescente voltou à tona e com ela todas as minhas lucubriações, tantas que sinto dificuldade em organizá-las em palavras para que exercite a extração e depósito na penseira. O ritmo intenso e cansativo do dia-a-dia me faz sacrificar partes de mim, sacrifício que para a minha “mestra” e orientadora de monografia, Professora Drª Rozélia Bezerra, é sinal de devoção, de amor.  “Amor”? Vocês devem estar se perguntando se isso tem algo a ver com recentes relacionamentos fracassados, e eu respondo que não. Não é o amor de Eros, não é um relacionamento afetivo-carnal, é um amor que transcende ao físico, que não existe explicação.

Amor à quê? Amor ao meu trabalho, amor à vida, amor à certeza que de alguma forma minhas falas vão mudar a realidade daquela adolescente que foi ao museu achando que só receberia uma aula de artes, como se artes fosse algo banal e inútil. Amor ao olhar esperançoso e ansioso por conhecimento como o meu era, como meu é até hoje.

– Fui arrebatado!” expressão dita em uma conversa casual por um colega de turma que definiu o que senti quando tive a oportunidade de ouvir sobre a “força expressiva na mão que pinta Caravaggio” e que para mim tudo mudou/começou ali, naquele auditório do CEGOE na UFRPE. Parece que depois do arrebatamento pela fala do Professor Dr. Sandro Sayão, arrebatamentos sucessivos me apresentaram uma calmaria convulsiva de que tudo daria certo e que todas as dúvidas impostas à minha capacidade de dar prosseguimento a uma pesquisa que não é comum no Recife receberiam a melhor resposta de todas: o sucesso.

Tá, mas o que pesquisas acadêmicas, mediações em museus, aulas arrebatadoras e um livro amarelo tem em comum? Simples, você é quem domina o rumo da sua vida. Decida, foque, exercite e você terá os lucros. Talvez essa tenha sido a mais insana e mais consciente postagem que eu tenha feito. Espero que vocês consigam compreender, esse foi o final de semana mais calmo dos últimos 6 meses, mas o mais agitado, por um momento a inquietação foi tamanha que não me reconhecia no espelho.


Lembre-se um ex-gordo vê o mundo diferente de um magro.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Pandora - Πανδώρα

Sabe qual é a melhor maneira de escrever? Estar em um ócio de domingo no fim da tarde, sozinha, acompanhada de uma caneca de café quente, forte e sem açúcar. Uma tarde de verão comum no Recife, onde uma simples brisa faz toda a diferença. Ultimamente não consigo fazer esse ritual de produção, esse mantra para organizar os pensamentos que brotam nas aulas de Filosofia da Arte e de História da Alimentação, nas conversas com os turistas que visitam o museu que trabalho ou pelas “arruanças” por Olinda e Recife. Ao contrário do que preciso para escrever, ando muito ocupada em estar entranhada nos ciclos sociais que faço parte e que cobram (e como cobram) atenção redobrada...

Sair cedo e voltar tarde nos dias úteis faz com que os fins de semana sejam dias ansiosamente esperados, intensamente aproveitados e não tão úteis como o resto da semana. Ando tentando seguir meus cronogramas e conciliar todos os ciclos em que normalmente um ser humano tem, o que acaba me deixando sem tempo para aquelas conversas que a gente tem dentro da própria cabeça. Sinto falta desses momentos de ócio, principalmente nos momentos em que me vejo negligenciando alguns projetos antigos e dando prioridade aos novos. Há quem diga que isso é defeito de fabricação do geminiano (risos).

Pensei em começar esse texto tirando um pouco o foco de mim e direcionar para algo sobre filosofias existencialistas e realistas em que temos que lidar todos os dias, porém nada mais filosófico do que você trazer sua própria realidade para um texto. A penseira do Dumbledore que a J.K. Rowling cria para que ele possa aliviar o peso dos pensamentos na cabeça é, para mim, a melhor descrição do que é o ato de escrever.

John William Waterhouse - Oil on Canvas
Pandora - J. W. Waterhouse (1896)
Recentemente, numa dessas arruanças, tive a oportunidade de conversar com um argentino pernóstico que ao descobrir que estudo história começou loucamente a me fazer questionamentos sobre mitologia grega. Me perguntou se eu conhecia Prometheus e se eu pudesse escolher algum dos personagens gregos para ser qual deles eu seria, entrei no jogo de provocações pedantes deste rapaz e respondi rapidamente que gostaria de ser Pandora. Ele intrigado pelo motivo que me levou a pensar tão rápido na resposta me
perguntou “Por que escolheu um personagem que é associado ao caos?” (caos no sentido de provocar desordem).

Li um texto sobre a obra de Francisco Brennand escrito por Roberta Aymar que dizia o seguinte; "Leituras enviesadas do mito, ao longo da história, trataram de metaforizar Pandora negativa e capciosamente como símbolo e corolário da incontrolável e inconsequente imprudência feminina. Ao estar diante da obra do artista, senti-me como uma Pandora recriada, reeditada anacronicamente. Todavia, não mais diante de uma caixa proibida, mas dentro da caixa dos espelhos da humanidade.”. E vi traduzido em paixão tudo aquilo que aprendi nas aulas da universidade, coisas que todo (aspirante a) historiador sabe – não existe verdade única.


Lembrem-se: um ex-gordo vê o mundo diferente de um magro!